Nesta adaptação para os quadrinhos do romance Scarface, de Armitage Trail, sobressai-se o talento do quadrinista francês Christian de Metter para a concepção nostálgica do universo noir, do qual o livro, publicado no fim dos anos 1920, é precursor e antecipa as grandes obras do gênero, de autoria de Chandler, Hammett, Goodis, Cain, Chase, os dois MacDonalds e mais alguns poucos autores. A adaptação é precisa e bem realizada, tornando a história veloz, enfática de imagens e composta das falas necessárias para o andamento mais visual que verbal da trama. Em busca da representação da Chicago daquela época, a capital americana do crime, De Metter banha seus pincéis de preto, azul, verde e amarelo, cores predominantes e sempre borradas por um indefectível "nevoeiro", que deixa as cenas constantemente embebidas de ambiguidade e mistério, mesmo as externas, à luz do dia, sob um céu amarelo (páginas 58-62). Percebe-se que a influência do cinema é decisiva, tanto mais que o romance inspirou um dos mais célebres filmes de gângsteres, Scarface (1932), dirigido por Howard Hawks e Richard Rosson, ao qual, volta e meia, os filmes contemporâneos do gênero retornam. Em algumas cenas, o rosto da atriz francesa Marion Cotillard parece ter inspirado a caracterização da personagem Jane Conley, a Porta-Armas, especialmente a partir da página 99. Publicada na França em 2011, a HQ Scarface saiu no Brasil no primeiro semestre de 2012, pela Editora Globo, na coleção Globo Livros Graphics.
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