O
serviço de espionagem britânico, com o propósito de marcar presença na Havana
pré-Fidel, recruta como espião um pacato cidadão inglês, o Sr. Wormold,
proprietário na capital cubana de uma loja de aspiradores de pó. Ele não
entende nada de espionagem, mal conhece o assunto, mas, por amor à filha de 16
anos, a quem, com o dinheiro da espionagem, poderá oferecer uma vida melhor,
redige falsos relatórios e frauda evidências da presença dos soviéticos em
Cuba. Paranoicos, como, aliás, todo o Ocidente na época, os ingleses acreditam
em tudo que o Sr. Wormold lhes envia. Sua audácia suprema se dá quando, sem
nada a oferecer aos seus patrões, ele desmonta um aspirador de pó, desenha suas
peças internas, uma a uma, e depois lhes envia “sua arte”, alegando que eram
aqueles os estranhos objetos que ele vira em determinado lugar da Ilha. O
entendimento é que certamente eram russos e, muito provavelmente, grandes peças
de um artefato atômico. Diz o ditado que, se quiser satisfazer a alguém, ofereça-lhe
o que ele deseja ver. Irônico e bem humorado, Nosso homem em Havana (L&PM,
2007) é um dos melhores livros de Graham Greene (1904-1991), detentor de uma
legenda rara entre os escritores: foi ele, ao mesmo tempo, um grande escritor,
de estilo pessoal e reflexivo, e um autor popular, capaz de ser profundo, sem
ser enfadonho, e “fácil”, sem abrir mão dos valores literários, num gênero polêmico como o policial. “Há muitos
países em nosso sangue, não é verdade? Mas apenas uma pessoa. Seria o mundo a
bagunça que é se fôssemos leais ao amor, e não aos países?”, reflete uma das
personagens. Publicado em 1958, vertido para o cinema e com inúmeras edições em
vários idiomas, este romance policial de espionagem tornou-se um dos mais célebres de seu autor, que
fez da literatura um plenário para as discussões de seu tempo, sem jamais
incorrer no panfleto.
Publicado originalmente na coluna Crítica Rasteira, da revista Verbo 21, em janeiro de 2013.
Publicado originalmente na coluna Crítica Rasteira, da revista Verbo 21, em janeiro de 2013.