Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

MALET POR TARDI

O escritor francês Léo Malet, nascido em Montpellier em 2009 e morto em 1996 em Paris, jamais teve suas obras regularmente publicadas no Brasil. Talvez o único livro de que se tem notícia seja É sempre noite (La vie est dégueulasse), da Trilogia negra, publicado pela Companhia das Letras em 1991 e jamais completada pela editora. Como os romances estrangeiros policiais tradicionalmente eram publicados no Brasil por casas editoriais de vida efêmera e em edições baratas, que mais cedo ou mais tarde desapareciam na poeira dos sebos e das bibliotecas, não se pode afirmar que nenhuma outra obra do autor não tenha vindo a público por aqui, em algum momento dos últimos cinquenta anos. Malet deixou de escrever nos anos 1960, mas seus livros, na França, continuaram populares e exaltados pela crítica, tanto a mais exigente quanto a específica do gênero policial. Isso se deve ao fato de ele mesclar, com eficiência, a ação rápida do romance policial americano com a tendência, na qual a literatura francesa é insuperável, de refletir sobre a realidade e filosofar sobre a condição humana. Neste sentido, Malet não se parece com ninguém. Talvez um pouco com Simenon. Para o deleite de seus raros apreciadores no Brasil (tenho quase certeza de que este grupo não é legião!), a editora de HQ Zarabatana Books acaba de lançar Brumas sobre a Pont de Tolbiac, adaptação para os quadrinhos por Jacques Tardi do romance homônimo de Léo Malet. O próprio Malet afirma, no prefácio, que este é um de seus livros mais apreciados, por ele e pelo público, com edições sucessivas. Curiosamente não foi aproveitado pelo cinema, mas se tornou uma belíssima HQ, pelas mãos de um astro dos quadrinhos franceses. A edição brasileira, em P&B sobre papel couché e dimensão confortável de 16x23cm, impressiona pelo requinte e pela beleza, e o estilo de Tardi parece perfeitamente assentado ao de Malet, seja na caracterização física dos personagens seja nos retratos em claro-escuro das ruas de Paris. Dá até vontade de ir lá, tamanho é o realismo! Para a nossa decepção, infelizmente, os protagonistas Nestor Burma e a cigana Belita são só de papel. A edição compreende o volume 1 da Coleção Nestor Burma. Torçamos para que a editora cumpra o prometido e publique mais adaptações de Malet por Tardi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Malet e Tardi, uma inspirada adaptação. Espero também visitar essas paragens. Aquele abraço. T