Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

domingo, 8 de agosto de 2010

O CÃO DOS BASKERVILLES


Péssima adaptação para os quadrinhos do célebre romance de Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930). Os inimigos das HQs vão adorar, pois é com trabalhos assim que se afirma a supremacia da literatura sobre o gênero. O autor, Martin Powell, favoreceu tanto a linguagem ágil dos quadrinhos em detrimento do texto, que a investigação de Sherlock Holmes se diluiu, ficando praticamente ausente. E o leitor atento se pergunta, ao fim da leitura, se a fama do detetive procede mesmo, afinal de contas ele não faz quase nada. Outro aspecto negativo é o desenho de Daniel Perez, indeciso entre uma representação ocidental do século XIX ou oriental-contemporânea, sob influência dos mangás. Os personagens mais velhos parecem arrancados de gibis antigos, e os mais jovens, recém-saídos de um show de rock, com narizes afilados, olhos graúdos e cabelos espetados. A editora On Line também deixa a desejar, pois logo na capa estampa errado o nome do roteirista: Martin "Powlel". O auge, no entanto, com o perdão do paradoxo, é esta fala: "É a vez 'de o' vilão 'de ser' caçado". Bastaria o simples e funcional: "Chegou a vez de caçar o vilão". Ou, se quiséssemos apenas corrigir os erros: "É a vez do vilão ser caçado". Por fim essa pérola, na seção de informações sobre o autor e os adaptadores: "Antes de sua morte em 7 de julho, em 1930, Conan Doyle havia escrito um total de 56 histórias 'sobre' o detetive". Ora, não é "sobre" o detetive, é "com" o detetive. Enganam-se aqueles que acham que não há semântica nas preposições. Entre as muitas adaptações de obras literárias para os quadrinhos, tendência que tem se intensificado nos últimos anos, essa é de fato a pior. Lamentável, pois o público ledor visado é, ao que parece, o mais jovem, em formação.