Uma nova Terra. Artificial, programada e que visa a se
tornar antípoda da atual. São convidadas a integrá-la somente pessoas que
possuam um mínimo de vínculo com seu planeta, de modo que laços não se partam,
e sentimentos conflitantes não aflorem e atrapalhem a fundação daquela nova
humanidade. É neste contexto que Clarisse é escolhida e acolhida, até que fica
grávida e, nesta condição, mais sensível a tudo, torna-se uma voz dissonante. A
vida perfeita que os líderes da nova Terra prometem tem seu preço, como tudo, e
Clarisse pouco a pouco o compreende. Escrito por Walmir Ayala (1933-1991), que
praticava com êxito muitos gêneros, este breve romance de ficção científica é
uma surpresa, tanto pelo entrecho quanto pelas reflexões que apresenta. Se
escrito em inglês ou francês, seria um livro cultuado, já com muitas edições e talvez até arrebatasse algum prêmio importante. Mas, sendo o idioma o português e o país o
Brasil, ao que parece teve só esta edição (Belo Horizonte: Leitura, 2012) e
muito mal cuidada. Os defeitos são inúmeros, desde negligência técnica ― ficha catalográfica centralizada, ausência da
falsa folha de rosto, papel e capa grossos demais e opção por fonte sem serifa,
o que dificulta a leitura ― até
erros grosseiros de revisão. Sem contar o fato de que o leitor não sabe se é
uma obra póstuma ou uma nova edição. Que o leitor releve, no entanto, estes
percalços do editor Sebástian Justo e desfrute o que o livro tem de melhor: seu
ótimo texto literário.
Publicado originalmente na coluna Crítica Rasteira, da Verbo 21, em abril.