Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O ALVO MÓVEL

L&PM, 2007.
Com este romance, publicado em 1949, Ross Macdonald, considerado por muitos o autor que refinou o material deixado por Dashiell Hammett e Raymond Chandler, inaugurou a saga de Lew Archer, "um novo tipo de detetive", como ele próprio se define. O enredo é simples e foi por demais imitado, tanto por Macdonald quanto por seus epígonos. Lew Archer é contratado por uma ricaça para investigar o paradeiro de seu marido, que fugiu ou foi sequestrado. Tal empresa coloca Archer em contato com uma linda adolescente mimada, seu pretendente atlético, um advogado apaixonado, uma atriz decadente, um guru idiota e uma súcia de malfeitores, dispostos a qualquer ação para ganhar alguns milhares de dólares. O estilo de Macdonald é seco, direto, como Hammett, mas inclinado a reflexões, muitas vezes poéticas, à maneira de Chandler: "O dinheiro é a energia vital desta cidade. Se você não tem, só está meio vivo". Do primeiro, absorveu ainda a tendência a criar personagens ambíguos, pendentes entre o bem e o mal, a verdade e a mentira; do segundo, certa propensão à melancolia e à piedade. Outra das características marcantes dos romances e contos de Ross Macdonald é a movimentação constante. Archer jamais para, está sempre em movimento, ou de carro, o que é mais comum, ou a pé. O autor parece indicar com isso que, de uma vez por todas, os detetives abandonaram a dedução em favor da observação in situ. É no calor dos fatos que o mistério se esclarece. Além disso, um destino específico é reservado às mulheres, que deixam de ser meros coadjuvantes, objetos de prazer ou motores de desejos fatais e interferem diretamente na trama, ou com ações e reações ou através de falas que enriquecem a narrativa ou a desviam do curso comum: "Gostaria de não ter dinheiro nem sexo. Para mim os dois dão mais problemas do que valem", dispara uma das mulheres de O alvo móvel, que inspirou o filme Harper (1966), com Paul Newman interpretando o detetive. Para os leitores que apreciam começar do princípio, este é o livro de entrada para o universo das investigações nada ortodoxas de Lew Archer.

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