Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

sábado, 10 de outubro de 2009

OS VINHEDOS DE SALOMÃO

Este romance, considerado muito forte em sua época, mesmo se tratando de um espécime do gênero policial, deve sua estrutura (com variantes, obviamente) a O falcão maltês, de Dashiell Hammett. O detetive particular Karl Craven chega à cidade de Paulton, onde seu sócio foi assassinado em missão: resgatar a sobrinha de um milionário do interior de uma instituição de fanáticos religiosos, denominada Vinhedos de Salomão. A garota está ali aparentemente por vontade própria, mas é mantida sob drogas, nas nuvens. Craven aos poucos mergulha no cotidiano da cidade, se envolve com uma loura que atende pelo epíteto de Princesa, entra em choque com um gângster, com um advogado suspeito, deflagra um tiroteio terrível, que até hoje inspira escritores e cineastas, e é obrigado, se quiser continuar vivo, a mentir e matar. Como Sam Spade, de Hammett, seu método reúne mentira, sarcasmo e imoralidade na dose certa para fazer justiça e resgatar a garota, a estatueta valiosa e rara da história. E no desfecho, como em O falcão maltês, Craven abdica do seu amor por uma mulher, descartando-a em favor da justiça, embora à sua maneira espirituosa, cruel e nada ortodoxa. Com esse espírito noir, era inevitável que Karl Craven fosse admitido na seleta galeria dos grandes detetives durões e solitários, encabeçados por Sam Spade e Philip Marlowe. Publicado na Inglaterra em 1941, Os vinhedos de Salomão saiu nos EUA na década de 1950 com cortes substanciais, por causa de suas cenas de violência, sadomasoquismo, alcoolismo, cinismo, humor negro e seu vocabulário baixo, arrancado das ruas, até ser resgatado na íntegra trinta anos depois e redescoberto como um clássico do gênero e, possivelmente, a obra-prima do autor. Curiosidade: a breve introdução do romance é assinada pelo próprio Karl Craven, que garante que tudo no livro é verdade, apesar de inacreditavelmente "barra-pesada", e que o autor apenas escreveu o que ele disse.

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