Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

NÃO ENVIEM ORQUÍDEAS PARA MISS BLANDISH

Quando publicado pela primeira vez, em 1938, Não enviem orquídeas para Miss Blandish (No orchids for Miss Blandish) foi considerado um dos mais violentos romances policiais já escritos e granjeou ao seu autor, o inglês James Hadley Chase, uma inopinada celebridade. Exaltado por alguns e muito criticado por outros (o escritor George Orwell foi um dos seus mais veementes opositores), devido à sua crueza, o romance teve poucas edições em português, das quais a mais conhecida é a da antiga Editora Globo, de Porto Alegre, em 1967, inaugurando a Série Amarela da Coleção Catavento, destinada a publicar as mais importantes obras do gênero policial da época. No formato 12x18cm, com berrante capa de Clara Pechansky e tradução de Leonel Vallandro, a edição trazia informações curiosas, como: "Mais de 500.000 exemplares deste livro já foram vendidos em todo o mundo". Na contracapa, o editor aumentava este número para 700.000 e a quantidade de leitores para mais de dez milhões, além de afirmar que o livro de Chase "na opinião dos críticos, dá uma nova dimensão à novela policial", o que não chega a ser exagero, se levarmos em conta que, excetuando-se autores como Chandler, Goodis, Cain e Hammett, os demais eram bem comportados contadores de histórias de detetive. A história pode ser dividida em duas partes: a primeira, tipicamente de ação, acompanha os bandidos e se fixa no sequestro da garota Blandish, que, mesmo depois de pago o resgate por seu pai, permanece em poder dos sequestradores, mantida à base de drogas e diariamente seviciada; a segunda, de mistério, encena as investigações da polícia, de um gângster melindrado e de um detetive particular, contratado pelo pai da moça para achá-la. Na junção dos dois pontos de vistas está a solução da trama, forte, inesperada e, para muitos leitores, desagradável. A linguagem é descarnada, direta e sem arroubos poéticos, centrada no desenvolvimento objetivo da história, cujo assunto já é por si só excessivamente indigesto. Sem edições há décadas no Brasil, como, aliás, toda a obra de James Hadley Chase, Não enviem orquídeas para Miss Blandish merece voltar a público numa tradução moderna e fiel à sua importância para a história do relato policial moderno, e ainda mais porque sua trama, antes violenta, não passa hoje de uma extensão vulgar da sociedade.

Um comentário:

Beto Miranda disse...

Li esse livro em 1979, quando tinha 15 anos. Me impressionou muito.