Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ATIRE NO PIANISTA

Um pianista exímio, mas estragado para a vida pelo suicídio da esposa; seus dois irmãos bandidos; a garçonete do bar onde ele toca; um brutamontes; dois misteriosos bandidos que perseguem um de seus irmãos; uma casa remota na floresta, aonde os personagens chegam, para um embate violento e decisivo... Não há uma trama propriamente dita neste que é um dos mais célebres e melancólicos romances de David Goodis, e que François Truffaut transformou num excelente filme. Mas sobra miséria, solidão, desespero. Uma fatalidade que engole todos os personagens, como um ralo que, recém-aberto, traga com sofreguidão a água armazenada. Se o leitor espera encontrar uma história policial convencional, nem abra o livro. Não há um crime relevante, nem tampouco uma investigação complexa. A polícia mal aparece na história, e não há diferença entre os bandidos e as demais pessoas. O crime não é uma escolha pessoal, nem muito menos uma condenação. O crime compreende a própria vida e com ela se confunde. É um simples expediente. Um passo na vida pode ser um passo para dentro do crime; e um passo neste, um passo para fora da vida. Não é por acaso que o título em inglês é Down there, algo assim como Na pior ou Para baixo. De fato, todos os personagens estão na pior, caindo, indo abaixo, desabando. Como disse Rainer Maria Rilke, num de seus mais belos poemas: "Olha em redor: cair é a lei geral". Talvez esta seja a epígrafe para Atire no pianista. E uma proveitosa orientação de leitura para o leitor impaciente.

2 comentários:

Lidi disse...

"Se o leitor espera encontrar uma história policial convencional, nem abra o livro."

Então abrirei, pois não quero uma história policial convencional. Estou com este livro em mãos, ainda não li, mas farei em breve. Você tem o filme, Mayrant? Abraços.

Anônimo disse...

Ei, eu também tenho uma cópia do filme(rs). Inclusive, assisti o filme depois da leitura do romance, ambos maravilhosos. Aquele abraço. T