Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

terça-feira, 4 de junho de 2013

UM ASSASSINO ENTRE NÓS

L&PM, 2007.
"Eunice Parchman matou a família Coverdale porque não sabia ler nem escrever", assim começa um dos melhores romances policiais de Ruth Rendell: Um assassino entre nós (A judgement in stone, 1977). É uma história cujo desfecho já se conhece, enunciado na primeira frase, portanto a narrativa se concentra nos fatos que conduzem ao crime e suas consequências. É um relato policial de ação. Não se fixa propriamente na investigação do assassinato, mas na tentativa (e tentação) de se compreender por que uma empregada doméstica, aparentemente pacífica e eficiente no seu trabalho, comete uma chacina contra seus patrões, matando a sangue frio quatro pessoas com as quais ela convivia diariamente e que a respeitavam. Dizem que os cegos confiam em todos, e os surdos, em ninguém. Quem não lê nem escreve talvez seja como um surdo na escuridão: sofre com uma dupla desconfiança, pois não tem meios imediatos de compensar sua deficiência. E, incomodado, apreensivo, envergonhado, só lhe restam duas opções: ou se corrige, alfabetizando-se (mas para isso precisa confessar-se), ou elimina as pessoas que o fazem diferente e inferior. Foi esta a escolha de Eunice Parchman. Matou aqueles que a faziam sentir-se complexada, por não poder decifrar as palavras, nem com elas, através da escrita, transmitir suas ideias. Matou para manter intacto o seu humilhante segredo.

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