Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

JAMILE SOB OS CEDROS

"Pertenço sempre a Omar." (Jamile)
Jamile, seu noivo Khalil Khoury e, de repente, durante um passeio de verão, Omar. Os olhos de Jamille e Omar se encontram e, num tempo único, deles próprios, e que talvez seja a eternidade, mesclam-se, numa união que vai mudar suas vidas e, consequentemente, a do noivo preterido, narrador da história. Este é o argumento de Jamile sob os cedros, uma história supostamente verídica passada no Líbano do século XIX e que inspirou o escritor francês Henry Bordeaux (1870-1963) a escrever um de seus melhores romances. Embora seja uma história de amor, em que os amantes, arrebatados, tudo fazem para ficar juntos, é igualmente um relato policial, pois envolve perseguição, prisão, julgamento, condenação e execução. Semelhantes a Romeu e Julieta, cujas famílias eram inimigas, Jamile e Omar estão separados pela fé, pela raça e pelas tradições que estas duas condições impõem. Ele é muçulmano, e ela, maronita. No período da narrativa, segunda metade de século XIX, os maronitas formavam uma comunidade árabe cristã ligada à Igreja Católica desde o século XII, regida por uma patriarcado autônomo, com sede no Líbano. Neste contexto, os enamorados não poderiam se amar, muito menos casar. Mas ela foge com ele, e seu ato, de amor, deflagra um abalo que vai atingir a todos os envolvidos. Uma punição é preparada pela família da moça e tem que ser imposta, mais cedo ou mais tarde, a qualquer preço. Esta é a história que lemos, numa velocidade de filme de ação, o que demonstra a modernidade de seu autor, bem como a qualidade da boa tradução de Mansour Challita, embora as falhas que o texto apresenta, aqui e ali. Aliás, esta edição, da Associação Cultural Internacional Gibran, merece uma postagem à parte, tanto pelos acertos quanto pelos equívocos. Leitura obrigatória para quem gosta de livros que abordam culturas divergentes da ocidental, quase sempre tomada como regra.

Um comentário:

Lidi disse...

"Os olhos de Jamille e Omar se encontram e, num tempo único, deles próprios, e que talvez seja a eternidade, mesclam-se, numa união que vai mudar suas vidas e, consequentemente, a do noivo preterido, narrador da história".

Mayrant, você escreve crítica com poesia! Excelente isso. Vou procurar este filme para comprar. Abraço.