As possuídas,
de Ira Levin (São Paulo: Círculo do Livro, 1987; há uma edição mais recente, de
2004, pela Bertrand Brasil, com o título Mulheres perfeitas, que,
infelizmente, entrega muito da história), constitui uma ousada metáfora do
automatismo das relações, sobretudo entre os cônjuges. Ao ironizar a excessiva
dedicação das mulheres ao lar e a expectativa masculina de dominação das
esposas, insere-se na linhagem de obras destinadas a levantar as feministas e
fazer pensar os machões. Mas sem panfleto, com a elegância que só os grandes
clássicos alcançam. O estilo do autor é uma atração à parte: contido e
envolvente, límpido e irônico, semeia pela narrativa (não raro, através da fala
de um homem) provocações como esta, "Gosto de ver as mulheres no desempenho de pequenas
tarefas domésticas", afirmação que representa, de uma feita, um elogio
sensual e um indisfarçável desejo de condenação. Inspirou dois filmes. Destaque
para Esposas em conflito, de 1975, dirigido por Bryan Forbes, tão
controverso e cultuado quanto o livro.
Publicado originalmente na coluna Crítica Rasteira, da Verbo 21.
Um comentário:
Adoro este livro e agradeço a você por ter me presenteado com ele. E é o que você escreveu: "[...] insere-se na linhagem de obras destinadas a levantar as feministas e fazer pensar os machões. Mas sem panfleto, com a elegância que só os grandes clássicos alcançam". Abraço, Mayrant.
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