Noir francês
A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.
domingo, 1 de novembro de 2009
NUNCA AOS DOMINGOS
Em cem capítulos curtos (o mais longo tem sete linhas; o mais curto, uma palavra), o escritor mexicano Francisco Hinojosa escreve uma novela policial irônica e original. Cada capítulo compreende uma página e, como num mosaico ou quebra-cabeça, compõe o contidiano de um homem frio e insensível, espécie de Mersault das Américas, que vai matar por tédio familiar, ódio aos domingos e náusea pelo gênero humano. Reduzida ao seu esqueleto (o capítulo 1 se resume a "A gorda do andar de cima me dá náuseas", e o 38, a "Depois falamos sobre a vida"), esta novela é uma paródia dos tradicionais romances policiais anglo-americanos e uma ironia com a forma que estes em geral adotam: muitas páginas de descrição de roupas e ambientes, ênfase exagerada em fatos secundários e dispensáveis, policiais maníacos e sarcásticos, e um criminoso que sempre mata por algum motivo (dinheiro ou loucura), exceto porque a existência é vazia e sem sentido, condição que, no relato de Hinojosa, atinge seu ápice sempre aos domingos, como uma confirmação da sombria conclusão de Cioran: "A única função do amor é nos ajudar a suportar as tardes dominicais, cruéis e incomensuráveis, que nos ferem para o resto da semana ― e para a eternidade". A essa palavra assustadora, ao mesmo tempo dia de descanso e vazio existencial, se reduz o centésimo capítulo, que fecha o livro: "Domingo". O leitor atento sabe o que acontecerá. Ao desatento resta balbuciar: "Que livro estranho!" Se não fosse estranho, não seria arte. Apenas mais um relato policial, sem qualquer atrativo.
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Um comentário:
Adoro esta novela. Fui apresentada a ela por você, Mayrant, numa oficina de narrativas policiais, na UEFS. E, hoje, tento apresentá-la aos meus alunos, sempre que tenho oportunidade. E de fato, o último capítulo "Domingo" já diz tudo. Um abraço.
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