Este é um trecho representativo da arte de Raymond Chandler. A descrição sutil de um ambiente; um ser fascinante, quase sempre uma mulher; o prazer visual que sua presença desperta; a sensualidade apenas sugerida, sem maiores voos verbais; a ironia (porque está bronzeado, o cara só pode ser o empregado encarregado da piscina) e a auto-ironia (quando mostra, pela reação do homem, que ele não é um empregado, e pela da garota que ela está com o sujeito e gosta disso) do narrador; a precisão verbal que, discretamente, apresenta um mundo específico, das classes abastadas, representado aqui pelo acúmulo de referências à cor branca, símbolo de bom-gosto e riqueza: maiô branco, faixa branca da pele da garota, touca branca, mesinha branca, sujeito de calças brancas de algodão; a poesia do mundo físico: "profunda caída do teto", "eu a vi cintilar num relance"; e humor: "rebolou até uma mesinha branca", "abriu a boca como se fosse um balde".
Este é Raymond Chandler, seu estilo e sua arte, sua técnica e sua estética. Num breve texto temos tudo o que, nele, se expressa para a funcionalidade das palavras, para o andamento sem entraves da história e também para não-ditos, sugestões, ironias, humor, precisão histórica e uma feliz e eficiente subjetividade.
3 comentários:
Mayrant, sempre nos ensinando alguma coisa com suas palavras fortes e objetivas...
Saudade...abraço destas terras paulistas!
Jocenilson
Esse é Raymond Chandler e eu ainda não li um livro dele. Que pecado! Preciso fazer isso o mais rápido possível. Um abraço, Mayrant.
Ainda bem que, agora, já posso dizer que li Chandler. E virei fã.
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