Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ZODÍACO


O filme Zodíaco, David Fincher, é tão bom quanto seu filme mais célebre: Seven. Lançado em 2007, conta a história verídica de um criminoso em série, que se identifica como Zodíaco e manda cartas com mensagens codificadas para a imprensa, assumindo os brutais assassinatos e anunciando outros. No entanto, a narrativa não se detém apenas nos crimes — que não seguem um padrão — ou no irônico criminoso, pelo contrário: o foco maior é para aqueles que se dedicam à investigação das mortes. Chamam a atenção, por exemplo, a desilusão do detetive David Toschi, depois de anos à procura do famigerado Zodíaco, e a enorme renúncia que os policiais precisam adotar em relação à vida familiar, na tentativa de desvendar o enigma. Não é de admirar que muitos desistam dessa área, a investigação de homicídios, e migrem para outra, como fez o personagem Armstrong, companheiro de Toschi. O filme prova, também, que na vida tudo é relativo. Nem sempre a polícia é a mais qualificada para encontrar um assassino — um simples cartunista foi mais longe na investigação que os policiais — e, às vezes, a ligação dos fatos, a dedução e até mesmo a intuição são as únicas provas, na falta de evidências concretas. Mas, quando não se tem certeza, uma prova incontestável, a impunidade continua, e o criminoso permanece em liberdade, praticando seu macabro esporte: caçar o próprio homem. Nada surpreendente, afinal de contas o homem é “o animal mais perigoso”. Na cena em que Toschi vai interrogar Leigh — o suposto assassino — e vê que ele usa botas iguais as que produziram as marcas encontradas no local de um dos crimes e o relógio, da marca Zodíaco, que inspirou o epíteto do criminoso, torcemos para que Toschi o prenda ali mesmo. No entanto, não é assim que as coisas funcionam. Enquanto se prende um ladrão de galinhas sem muito o interrogar, mesmo sendo só galinhas, um assassino fica à solta por falta de provas. Quanto à forma, apesar de longo, o filme prende o espectador até o final, não apenas pelo suspense, mas por tratar de um tema, acima de tudo, humano e, sem dúvida, pela pitada de ceticismo, sarcasmo e humor, aspectos comuns ao gênero. E há ainda a fotografia, a bela fotografia noturna que dialoga com o grandes filmes do gênero noir, recriando seu palco predileto, as noites, que, de tão abertas à experiência humana, são quase um “segundo mundo”.

Título original: Zodiac. Direção: David Fincher. Roteiro: James Vanderbilt, baseado no livro Zodiac, de Robert Graysmith. Ano e país de produção: 2007, EUA. Fotografia e duração: colorido, 158'. Atores principais: Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Jake Gyllenhaal e Chloë Sevigny.

LIDIANE NUNES, uma infiltrada.

Nenhum comentário: