Noir francês

A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.
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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CONTOS DE CRIME

Contos de crime: clássicos escolhidos, organizado por Flávio Moreira da Costa, é uma excelente amostra do que os grandes autores escreveram de melhor no âmbito da literatura policial. A criteriosa antologia ainda desmistifica a ideia de que o relato policial não é Literatura. Ora, se não é, por que Machado de Assis, Guy de Maupassant e Robert Louis Stevenson o praticaram? Para perder tempo e prestígio? Eis o mistério. Antes de expressar seu preconceito, o leitor deve criar seu conceito, e este livro apresenta uma oportunidade para que ele, despido de grilhões e correntes, julgue por si mesmo até que ponto a leitura de relatos policiais entretém, deleita e faz pensar. Entre os autores arrolados pelo organizador estão, além dos três supracitados: Fiódor Dostoiévski, Saki, Ambrose Bierce, Coelho Neto, Guillaume Apollinaire, Sir A. Conan Doyle, Edgar Allan Poe, Ryunosuke Akutagawa, Jacques Frutelle, W. W. Jacobs e Marcel Schwob. Supremacia maciça das literaturas de língua inglesa e francesa, nas quais o arco de recepção do texto literário é maior e mais afeito a considerar as diferenças como ganhos para a sensibilidade e para o conhecimento. Qualquer que seja a preferência do leitor, ou pelo relato de mistério, centrado na investigação do detetive, ou pelo relato de ação, que opta por narrar os passos do criminoso, os contos enfeixados por Flávio Moreira da Costa são a mais pura afirmação de que as más intenções criminosas oferecem, sim, ótima literatura.

domingo, 2 de janeiro de 2011

"MARKHEIM", DE STEVENSON

O fato de classificarmos A cartomante, de Machado de Assis, como um conto policial evidentemente desagrada aos puristas. Aqueles leitores que por ingenuidade acreditam que a ficção policial é uma exclusividade da literatura de consumo ou de entretenimento, e que a chamada "alta literatura" jamais se interessa pelo gênero ou, quando o faz, é com outros propósitos. Não só A cartomante é um conto policial, e dos melhores já escritos, como inúmeros outros "altores" (isso mesmo, com "L", para dar conta de "autores altos", inseridos na alta literatura) incorreram no gênero, e ainda o fazem, e cada vez mais. Ontem, voltando ao meu "regímen" antigo, de ler por dia pelo menos um conto, reli Markheim, de Robert Louis Stevenson, que integra a antologia organizada por Bráulio Tavares Contos fantásticos no labirinto de Borges (Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005). Como o conto supracitado de Machado de Assis, este relato de Stevenson é do gênero policial, mas não se restringe a contar ou elucidar um crime. Há um crime, evidentemente, que poderíamos classificar de primeira história, ou história visível, como propõe Ricardo Piglia, e há a história secreta, apresentada em segundo plano, e que se mostra no desfecho, quando o protagonista, um assassino, pela primeira vez decide por si mesmo sobre sua vida. Até então ele ia ao curso dos acontecimentos. Agora, contudo, toma uma séria decisão, e exatamente quando, pressionado pelo mal e por ele instigado, era mais fácil se deixar conduzir. A iconoclastia que durante toda a vida lhe esteve a serviço do crime o fez tomar o caminho oposto, e com isto, em circunstâncias pouco dignas e desfavoráveis, Markheim se redime. No conto, o assassinato e suas consequências, narrados com riqueza de detalhes, serviram como pretexto para um exame mais largo e profundo acerca da condição humana, o que, por outro lado, não o transforma em outra coisa, é ainda um relato policial. Tais características fizeram deste conto um dos preferidos de Borges.