Capa: Lee Bermejo. New Pop, 2012. |
Vejamos agora um resumo de cada um dos gibis. Calafrio é uma história de assassinato em série, mas com uma deliberada incursão pelo fantástico. A arte de Mick Bertilorenzi é um primor e desenvolve com arrojo o estranho mundo apresentado pelo roteiro de Jason Starr. É, de todas, a trama mais sensual, com imagens de um erotismo franco e sem pudor. A cidade da neblina, talvez a mais noire das seis histórias, pela reprodução dos aspectos que consagraram tal gênero, envereda, no entanto, por questões mais contemporâneas, como homossexualidade e tráfico de imigrantes. O roteiro, de Andersen Gabrych, parece às vezes meio confuso e forçado, defeitos compensados pela arte de traços caricatos, muito embora convencionais, de Brad Rader. Morte no Bronx é a história de um escritor atormentado pelo desaparecimento de sua esposa, com roteiro instigante e fluido de Peter Milligan, e arte sedutora de James Romberger. A rica indecente reelabora um dos assuntos recorrentes da narrativa policial, com roteiro assinado pelo aclamado Brian Azzarello: empresário rico designa empregado para vigiar e proteger sua filha, uma jovem tão bela quão perigosa. A arte, de Victor Santos, é burlesca, alternando humor e drama, claro e escuro. Área 10 é mais uma trama de serial killer, mas introduz temas oriundos da psicologia e da medicina experimental, enriquecendo-se e ao leitor. A arte de Chris Samnee é a menos empolgante das seis, limitando-se à eficiente exposição visual do roteiro de Christos N. Gage. Em O executor, o roteiro (Jon Evans) e a arte (Andrea Mutti) pecam por não seduzir o leitor. O primeiro soa inconvincente, e a segunda, funcional demais, destituída de qualquer audácia. A trama, meio débil, devolve um ex-atleta à sua cidade natal, onde ele reencontra seus antigos colegas de escola, todos de alguma forma envolvidos nos crimes que, nos últimos anos, abalaram a região.
O projeto gráfico é bonito, a impressão em papel branco de 90g é perfeita, e os volumes, no formato 14x20cm, são fáceis de manusear e guardar, como livros. As capas, contudo, assinadas por Lee Bermejo, são horrendas, sem qualquer atração, nem em traço nem em cor, exceção talvez a de A rica indecente e a de Calafrio. Em todos os volumes, há erros aqui e ali, alguns bem graves, como a troca dos autores por outros na quarta capa de Área 10. E o português, de responsabilidade de Ana Luísa Casas! É cada frase mal feita, cada construção bizarra, mesmo quando a intenção é ser coloquial, que passa pela cabeça do leitor sugerir que a mocinha seja devolvida, com urgência, ao curso primário. Faltou um bom revisor à editora, que, infelizmente, confiou demais na competência da tradutora.
Recomenda-se a leitura sobretudo de Morte no Bronx e Calafrio. O primeiro capítulo deste último, aliás, tem uma das mais bonitas aberturas dos quadrinhos atuais. Da página 5 à 20, o leitor vibra, se excita e se comove, sem saber que está diante de uma história a um só tempo sensualíssima e imponderável.