Noir francês
A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.
domingo, 27 de setembro de 2009
RAYMOND CHANDLER
Se Dashiel Hammett criou o relato policial noir, foi no entanto Raymond Chandler quem lhe conferiu prestígio literário e artístico. Mesmo os leitores que não apreciam a literatura policial respeitam-no, como respeitam Georges Simenon, Patricia Highsmith, James M. Cain e David Goodis, autores que, apesar de sua opção pelo relato policial, não se limitaram às amarras do gênero. Como se cumprissem à risca uma hipotética cartilha ditada por Edgar Allan Poe ou Pablo Picasso, fizeram arte com a matéria que escolheram: impuseram-se um estilo, uma linguagem, uma dicção, de modo que, ao lermos o texto de um, sabemos que não estamos lendo o texto de nenhum outro. E não interessa se o entrecho policial é ou não é relevante; o que importa é como cada um desses escritores, a começar por Hammett, estrutura e molda suas histórias, e o efeito que extrai delas e que, durante a leitura, migra para a sensibilidade do leitor, que, assim, apreende um pouco mais da realidade à sua volta, sempre um enigma. Nascido em Chicago em 1888, Raymond Chandler estudou na Inglaterra, França e Alemanha. Teve uma formação clássica, e isso muito colaborou para que ele deslocasse para o gênero policial uma linguagem que poderia, muito bem, estar a serviço de outro ramo da arte literária. Depois de saltar de uma para outra profissão (foi professor, revisor, soldado das forças canadense e britânica, contador, redator, executivo de uma empresa de petróleo e detetive particular, o que lhe conferiu larga experiência de vida e a desenvoltura necessária à sua representação realista do mundo), Chandler se estabeleceu na California, palco de seus contos e romances. Escreveu: O sono eterno (1939), O longo adeus (1953), Adeus minha adorada (1940), A irmãzinha (1949), A dama do lago (1943), Janela para a morte (1942), Playback (1958), dezenas de contos, espalhados por várias coletâneas, e Amor e morte em Poodle Springs, que deixou inacabado e foi concluído por Robert B. Parker. Também foi roteirista de Hollywood. Todos os seus romances foram levados ao cinema, tornando-se grandes clássicos do gênero noir. Seu personagem Philip Marlowe, protagonista de seus romances, entrou para a galeria dos grandes detetives, ao lado do comissário Maigret, do padre Brown, de Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Dupin. Em 1956, com a morte da esposa, Chandler entregou-se ao álcool, o que certamente contribuiu para a sua morte, aos 71 anos, em 1959. Era, porém, um escritor admirado e respeitado, nos EUA e no mundo, e não apenas como autor de romances e contos policiais.
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2 comentários:
"[...] o efeito que extrai delas e que, durante a leitura, migra para a sensibilidade do leitor, que, assim, apreende um pouco mais da realidade à sua volta, sempre um enigma."
Não entendo o preconceito existente em relação à narrativa policial. Concordo com as palavras do Gallo, pois expressam uma verdade inegável: a vida é um mistério.
"E não interessa se o entrecho policial é ou não é relevante; o que importa é como cada um desses escritores, a começar por Hammett, estrutura e molda suas histórias [...]"
Lembrei de Córtazar quando afirma que o conto "não é ruim pelo tema, porque em literatura não há temas bons, nem temas ruins, há somente um tratamento bom ou ruim do tema."
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