Noir francês
A lua na sarjeta (La lune dans le caniveau, 1983), David Goodis por Jean-Jacques Beineix.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
OS VIOLENTOS
Os violentos (The executioners), de John MacDonald, publicado em 1957, é uma unanimidade. Nenhum livro que ele escreveu antes nem depois é capaz de superá-lo. O argumento, claramente de exceção, é um primor: Max Cady, denunciado pelo advogado Sam Bowden por ter estuprado uma criança, passa anos na cadeia e, ao sair, decide se vingar do advogado. Seu método, porém, é sutil: nunca faz nenhuma ameaça a Bowden nem à sua família, apenas se mantém por perto... Perto da escola dos seus filhos, perto do iate clube que eles freqüentam, perto do próprio Bowden, no tribunal, onde o advogado está em ação. E a polícia nada pode fazer, pois não há ameaça, nenhuma evidência concreta de que Cady pretende ser violento com Bowden ou com sua família e, consequentemente, se vingar. De posse deste entrecho, MacDonald o estrutura de uma maneira tal, que quem temia ser agredido passa a agressor, pois, com o propósito de intimidar Cady e obrigá-lo a sair da cidade, Bowden contrata alguns homens para surrá-lo. A consequência desta inversão de papéis é que a fronteira entre o bem e o mal se esfumaça: Cady e Bowden acabam equiparados, quase iguais, simples seres humanos com seus defeitos, medos e fraquezas. Quem é o bandido, quem é o mocinho? Pelo visto, ninguém, embora a causa de Bowden seja aparentemente mais nobre: tenciona proteger a família. Mas Cady também não tem lá os seus motivos de vingança, pelo fato de, ao ser denunciado, ter perdido a mulher e o filho, que o abandonaram? Num trecho metalinguístico, o narrador, através da fala de Nancy, a filha do advogado, reflete sobre essa ambiguidade que move os dois oponentes: "É nossa professora de inglês. Ela nos ensinou que a ficção é boa quando há desenvolvimento dos personagens, mostrando que ninguém é inteiramente bom ou inteiramente mau. Na ficção ruim, os heróis são cem por cento bons, e os maus cem por cento maus". Do ponto de vista de Cady, que foi para a cadeia e sacrificou sua vida familiar, o vilão é Bowden. Do ponto de vista de Bowden, Cady, pelo que fez, mereceu perder a família e ir para a cadeia. Um romance forte, profundo, psicológico, reflexivo e muito além de uma simples trama policial. Uma parábola do nosso tempo, que a cada dia se torna mais aterrador que os livros que escreveu ou escreve. Gerou duas adaptações cinematográficas: Circulo do medo (1962), dirigido por J. Lee Thompson, e Cabo do medo (1991), de Martin Scorsese.
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