Os contos do escritor Mayrant Gallo, reunidos no livro Dizer Adeus, publicado pelas Edições K, em 2005, são considerados pelo autor "rituais de crimes", e não narrativas do gênero policial, que lhe parece, machadianamente, um "gênero difícil". Seja como for, tratam-se de narrativas nas quais verificamos a presença da morte (metafórica ou não). Já é quase um dogma a assertiva que defende a verdadeira arte como aquela que mesmo trabalhando com um assunto visitado inúmeras vezes, como a morte, por exemplo, o aborda de uma forma nova, ou seja, é aquela que nos diz a mesma coisa de uma outra maneira. E em Dizer Adeus todos os contos nos prendem de um modo especial. Sim, o modo, a maneira de se tratar um tema, esse é o toque definidor do genuíno artista. E esse modo inovador da escrita percebemos, no autor, em "Mãos Dadas", apenas para citar um conto, o último do seu conjunto meio noir. Logo no início, o que chama a nossa atenção é a estrutura. Os capítulos são divididos por letras. No capítulo A, como nos demais, períodos curtos, o dizer-muito-com-pouco: "Uma criança, um pai. O pai que desce a escada, e a criança que o segue, na noite: Pai, quero ir também... Um rosto que se volta: Não. Passos. Dois pés que descem. Dois pezinhos que sobem." Essa linguagem cinematográfica, imagética, metonímica, fragmentada, nos permite ver toda a cena. E se dermos um salto para o desfecho dessa história, que envolve relacionamento familiar, traição e crime, lemos apenas a seguinte frase: "Sangue na noite". O crime não foi narrado. Não era necessário. O leitor está totalmente satisfeito. E impactado. Depois dessas três palavras, não se precisa escrever mais nada.
LIDIANE NUNES, uma infiltrada.
3 comentários:
Expressivo e preciso comentário. Cada linha, um testemunho apaixonado. Muito que bem, Lidi. Aquele abraço.
Lidi, assino embaixo.
A escrita de Mayrant (prosa e verso) é surpreendente. O leitor, sem dúvida, não escapa ileso.
Abraços.
Tive a honra de ser o revisor e um dos editores desse pequeno petardo literário. Que venham novos livros do talentoso narrador Gallo.
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