Por ocasião do último conflito mundial, voltou aos campos de batalha, outra vez como sargento, servindo a maior parte do tempo nas Aleutas. Perseguido pelo macartismo, foi vítima da "caça às bruxas", falecendo pouco depois desse episódio, que lhe afetou mais ainda a saúde.
André Gide, que o leu por sugestão de André Malraux, assim como Sinclair Lewis, Robert Graves e Louis Untermeyer, entre outos intelectuais de projeção, admiravam muito os seus romances. Na verdade, Dashiell Hammett foi considerado, desde logo, um mestre indiscutível da ficção policial, não só pela estrutura das histórias, por sua prosa limpa e direta, inteiriça e econômica, como também pela caracterização, precisa, exata e ágil, da psicologia dos personagens.
Além dos enredos intrincados e intrigantes, que fascinam pelo suspense e pela ação, sem nunca, porém, ultrapassarem os limites da credibilidade, há algo de novo na literatura de Dashiell Hammett: o seu conteúdo social. É talvez o único autor desse gênero de ficção preocupado em retratar, com realismo e verdade, as mazelas da sociedade. Seus críticos acentuam mesmo que foi ele um agudo observador da corrupção e um sensível sismógrafo da subjacente violência que a toda hora solapa a vida americana.
A chave de vidro é bem um exemplo desse aspecto da obra de Dashiell Hammett. Nesse livro, ele conta a história de uma cidade dominada por uma quadrilha de gângsteres políticos. A partir do assassinato do filho de um senador, vai o romancista descrevendo como os fora-da-lei exerciam e impunham o terror e a violência. O jogador Ned Beaumont, amigo do infortunado pai e eminente cidadão, é quem vai descobrir os assassinos do jovem, enfrentando toda a sorte de perigos e ardis. As cenas que se sucedem até a elucidação do caso são duras, ásperas, brutais mesmo. Graças, porém, à eficaz comunicabilidade de Dashiell Hammett, que escrevia sobre o que conhecia, que se baseava nas suas vivências pessoais, nenhum leitor abandona o volume. Vai até o final devorando-o emocionado, chocado e esclarecido.
MARIANO TORRES, na orelha à primeira edição brasileira: Civilização Brasileira, 1970.
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