Quando publicado pela primeira vez, em 1938, Não enviem orquídeas para Miss Blandish (No orchids for Miss Blandish) foi considerado um dos mais violentos romances policiais já escritos e granjeou ao seu autor, o inglês James Hadley Chase, uma inopinada celebridade. Exaltado por alguns e muito criticado por outros (o escritor George Orwell foi um dos seus mais veementes opositores), devido à sua crueza, o romance teve poucas edições em português, das quais a mais conhecida é a da antiga Editora Globo, de Porto Alegre, em 1967, inaugurando a Série Amarela da Coleção Catavento, destinada a publicar as mais importantes obras do gênero policial da época. No formato 12x18cm, com berrante capa de Clara Pechansky e tradução de Leonel Vallandro, a edição trazia informações curiosas, como: "Mais de 500.000 exemplares deste livro já foram vendidos em todo o mundo". Na contracapa, o editor aumentava este número para 700.000 e a quantidade de leitores para mais de dez milhões, além de afirmar que o livro de Chase "na opinião dos críticos, dá uma nova dimensão à novela policial", o que não chega a ser exagero, se levarmos em conta que, excetuando-se autores como Chandler, Goodis, Cain e Hammett, os demais eram bem comportados contadores de histórias de detetive. A história pode ser dividida em duas partes: a primeira, tipicamente de ação, acompanha os bandidos e se fixa no sequestro da garota Blandish, que, mesmo depois de pago o resgate por seu pai, permanece em poder dos sequestradores, mantida à base de drogas e diariamente seviciada; a segunda, de mistério, encena as investigações da polícia, de um gângster melindrado e de um detetive particular, contratado pelo pai da moça para achá-la. Na junção dos dois pontos de vistas está a solução da trama, forte, inesperada e, para muitos leitores, desagradável. A linguagem é descarnada, direta e sem arroubos poéticos, centrada no desenvolvimento objetivo da história, cujo assunto já é por si só excessivamente indigesto. Sem edições há décadas no Brasil, como, aliás, toda a obra de James Hadley Chase, Não enviem orquídeas para Miss Blandish merece voltar a público numa tradução moderna e fiel à sua importância para a história do relato policial moderno, e ainda mais porque sua trama, antes violenta, não passa hoje de uma extensão vulgar da sociedade.
Um comentário:
Li esse livro em 1979, quando tinha 15 anos. Me impressionou muito.
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